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Friday, April 08, 2011

IMPOSSÍVEL OUTRO ASSUNTO


É o que diz o título, em gênero, número, grau e pasmo. Pensei, ao longo da semana, em tratar das condições absurdas do sistema bancário nacional, quando passei por três municípios da região para conseguir realizar quatro depósitos com menos filas e mais competência. Pensei em falar novamente da questão da fidelidade partidária: trataria do conflito entre a absolvição no processo contra o prefeito de Iguaba e a aceitação dos ditames do TSE pela Comissão de Reforma Política do Senado. Mas hoje é impossível falar de outro assunto que não seja o doloroso massacre de estudantes em Realengo.


Realengo, bairro conhecido principalmente pela presença militar, assistiu às mais duras cenas de sua história. No mesmo dia, conversava eu com professores sobre a presença do tráfico de drogas em uma determinada escola municipal de Cabo Frio. Essas questões nos levam a reflexões de dois tipos: na área das políticas públicas e na área dos sentimentos humanos.


As escolas públicas hoje, permissivas com o alunado e repressivas com os profissionais da educação, em sua maioria, dão extrema atenção para os pequenos detalhes inoperantes e negligenciam os elementos primordiais de uma vivência segura da educação. Em Macaé, por exemplo, até escolas municipais em localidades rurais possuem a presença da Polícia Militar ou da Guarda Municipal. Em outros lugares, porém, a entrada de estranhos ao recinto escolar é permitida livremente, sob a alegação de que a escola “é prédio público”, ou ainda “espaço para livre circulação e interação da comunidade”. Não conheço experiências de revista a transeuntes e solicitação da apresentação de documentos para entrada em recintos escolares no Estado do Rio de Janeiro. Igrejas possuem empresas terceirizadas de segurança trabalhando 24 horas; escolas não.


A revista a alunos e visitantes das escolas é alegada como desmoralizante, ao passo que um projeto de lei estadual para realização de exame toxicológico em alunos da rede tem causado polêmica. O prédio escolar não é tratado como centro de excelência de ensino, a ser utilizado especificamente por cidadãos (alunos ou não) que demonstrem objetivo interesse em pesquisa e aprimoramento intelectual, devendo, para isso, comprovar ao que vieram naquele momento. Dificilmente, após este fato horrendo, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro não criará uma estrutura de segurança para as entradas, arredores e interiores nos prédios escolares.


A dor de ver crianças inocentes mortas e pais desesperados nos trás, por outro lado, um despertar de sentimentos humanos. Na dor, aqueles que não são pais se tornam e os que são, desabam. Na dor do que vemos, os sinais nos rostos das mães se universalizam como função comum do ser mulher. Na dor do que ouvimos, homens e mulheres se sentem novamente crianças, a chorar pelos corredores, temerosos pelo monstro que se aproxima para lhes tirar a vida, como nos mais mórbidos pesadelos de infância – só um colo e um defender é o desejo dos adultos que assim lacrimejam. Eu, assim, termino meu dia jogando um grande futebol com um pequeno menino, numa quadra de escola pública, esperando que a trina relação adulto-criança-escola precise amanhã de menos seguranças, e hoje, de bem menos ilusões.

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